O inchaço abdominal é uma situação cada vez mais comum (e muito desconfortável) em que a barriga aumenta de volume. Para além da sensação de desconforto constante, causa uma mudança da percepção do corpo e da auto-estima, principalmente no verão, quando queremos usar roupas mais curtas e o nosso bikini favorito na praia. A questão que se coloca é: porque é que isto acontece e porque perdura no tempo?
Hoje quero falar-vos das causas do inchaço abdominal e como eliminá-lo de forma definitiva. Este inchaço geralmente ocorre após as refeições e aumenta ao longo do dia. Cerca de 20 a 30% da população sofre regularmente com o inchaço abdominal, mas esse número dispara para os 96% entre pessoas com Síndrome do Intestino Irritável (SII).
O inchaço é um sinal de desequilíbrio no intestino, frequentemente causado por disbiose, intolerâncias alimentares, supercrescimento bacteriano e stress. Enquanto a Medicina convencional geralmente trata os sintomas do inchaço, a Medicina Funcional aborda todo o ecossistema do corpo, incluindo a modulação e reconstrução da função e o microbioma intestinal.
As Principais Causas de Inchaço Abdominal
1. Dieta Rica em Açúcar
Grandes quantidades de açúcar refinado alimentam as bactérias prejudiciais no nosso intestino. Isso pode levar a desequilíbrios e supercrescimentos bacterianos no intestino (chamados “crescimento bacteriano excessivo no intestino delgado” ou SIBO).
Se tem, por exemplo, sinusite, congestão nasal crónica, ou se sente mal depois de comer alimentos ricos em açúcar, pode ser um sinal de que tem um problema de crescimento bacteriano excessivo.
2. Alergias e Sensibilidades Alimentares
A diferença entre uma alergia e uma sensibilidade é que numa alergia há presença de um anticorpo, que é detetável num exame de sangue. As alergias também costumam ser muito mais graves do que as sensibilidades alimentares e podem ser potencialmente fatais. Uma pessoa pode ter várias alergias e sensibilidades alimentares sem sequer ter consciência disso.
As sensibilidades alimentares, embora geralmente não sejam fatais, podem causar sintomas crónicos e, às vezes, graves. Diarreia, prisão de ventre, aumento da frequência cardíaca, enxaquecas, dores de cabeça, inchaço ou dor abdominal após comer, são apenas alguns dos sintomas que podem ser causados por sensibilidades alimentares.
Depois de uma avaliação de sintomas (e, em casos particulares, testes funcionais), podemos descobrir se tem alergias e sensibilidades alimentares.
Muitos testes alimentares podem dar algumas pistas, mas também pode acontecer darem falsos positivos, pelo grau de inflamação do intestino, daí que seja sempre necessário integrar esses resultados com os sintomas individuais de cada paciente.
A Medicina Funcional possui uma ampla variedade de ferramentas para ajudar o corpo a recuperar da reação inflamatória causada por alergias e sensibilidades alimentares, e pode (dependendo da causa), reduzir ou eliminar os sintomas.
O primeiro passo será sempre, durante um período de tempo, eliminar grupos de alimentos da sua dieta (dietas de eliminação), enquanto tratamos a causa da sensibilidade alimentar.
3. Stress
Esta é uma causa cada vez mais frequente e que muitas pessoas ignoram, mas é incrivelmente comum. O nosso sistema digestivo está interligado ao nosso sistema nervoso – é por isso que refeições longas e relaxantes são ideais para a digestão.
Se uma pessoa come uma barra de proteína nos 30 segundos entre estacionar o carro e correr para uma reunião, ou se come em 10 minutos sem mastigar bem os alimentos, porque tem trabalho para terminar, o seu sistema digestivo vai ter uma grande dificuldade em funcionar adequadamente.
Reduza os níveis de stress o máximo possível, desligue o telefone por pelo menos 20 minutos e coma refeições equilibradas, mastigando bem os alimentos antes de engolir.
4. pH gástrico baixo
Baixos níveis de ácido gástrico podem desencadear uma reação em cadeia no nosso sistema digestivo, o que pode causar diversos sintomas – sendo o inchaço o mais comum.
Baixa acidez gástrica resulta em alimentos não digeridos, que permanecem por várias horas no estômago ou no intestino delgado. Essas partículas de alimentos não digeridos produzem gás, o que causa inchaço. Se para além disso ainda tiver associado um processo de prisão de ventre, há casos em que certos alimentos ficam a fermentar no nosso tubo digestivo por vários dias. Consegue imaginar o ambiente explosivo que se pode criar?
Com algumas mudanças na dieta e suplementação, podemos restaurar a produção normal de ácido gástrico e da ativação de várias enzimas digestivas, o que irá ajudar a digerir completamente os alimentos.
5. A causa cada vez mais frequente e pouco falada: disbiose intestinal
Muitos fatores podem criar as condições para um desequilíbrio da nossa flora intestinal, com o crescimento de outras bactérias oportunistas que não deveriam estar lá. Exemplos como o uso de antibióticos, uma dieta pobre em fibras e vegetais, historial de uma intoxicação alimentar ou pH gástrico baixo, podem criar um ambiente de desequilíbrio no intestino. Em casos suspeitos de uma infecção bacteriana, é necessário pedir testes confirmatórios de que tipo de infeção é.
De acordo com vários estudos, o SIBO é uma causa muito frequente e subdiagnosticada: SIBO (small intestinal bacterial overgrowth ou supercrescimento bacteriano no intestino delgado, é o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado e inclui sintomas como inchaço abdominal, gases, dor abdominal, obstipação e/ou diarreia.
Mas o SIBO também tem um parente: o SIFO, que significa Super Crescimento Fúngico no Intestino Delgado. O SIFO é semelhante ao SIBO, exceto que é caracterizado por um crescimento excessivo de fungos no intestino delgado. Alguns sintomas relacionados incluem arrotos, náuseas, pensamento confuso, dores de cabeça, fadiga e dor nas articulações, sendo muitas vezes associado a mulheres com candidíases vaginais recorrentes e comichão anal.
Vamos às verdadeiras soluções
A dieta certa para a barriga inchada
Quando ingere alimentos, as bactérias presentes no seu intestino delgado também podem ser 'alimentadas', resultando na produção de gás. As bactérias que proliferam no intestino variam de pessoa para pessoa. Portanto, os alimentos que podem agravar o SIBO também variam.
Durante o tratamento, é importante identificar os alimentos que não agravam os sintomas e ajustar as quantidades. Por exemplo, pode tolerar algumas uvas, mas não uma tigela inteira delas.
A dieta que mais recomendo experimentar é a dieta de baixo FODMAP. FODMAP significa oligossacáridos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis.
Sei que são termos complicados mas, basicamente, FODMAPs são alimentos que contêm amidos indigestos, que as bactérias no nosso corpo 'fermentam' para quebrá-los, produzindo gás como resultado.
Se deseja evitar o excesso de gases, pode evitar alimentos ricos em FODMAPs que irritam determinadas bactérias e optar por alimentos com baixo teor de FODMAPs.
Dois ótimos recursos que partilho e onde pode encontrar informações sobre a dieta FODMAPs:
Universidade Monash – pesquisadores desta Universidade desenvolveram e registaram a dieta de baixo FODMAP.
No meu site pode fazer o download da dieta FODMAP e começar por se informar e testar.
Os protocolos para sintomas de SIBO e para o inchaço
O tratamento pode ser um caminho lento e complexo, devido às diferentes causas de SIBO e às diferentes bactérias envolvidas. Mas se não quer conviver com os sintomas digestivos que a têm acompanhado, é melhor começar em algum lugar.
Na minha opinião, poderá obter melhores resultados ao trabalhar com um profissional de Medicina ou Nutrição Funcional. Podem ser pedidos vários testes de fezes, que possam auxiliar a identificar as causas e, a partir daí, definir um plano de tratamento com os suplementos especializados que podem ser difíceis de encontrar de outra forma.
Mas vamos ver aqui alguns suplementos que podem ajudar na barriga inchada / SIBO:
- Óleo de orégão – pode ajudar tanto para SIBO quanto para SIFO, sendo frequentemente combinado com outros antibacterianos e antifúngicos, como o óleo de tomilho e o extrato de semente de toranja (grapefruit extract).
- Suplementos de re-equilíbrio intestinal – fórmulas próprias com combinação de extratos de alcachofra, alcaçuz e gengibre, formuladas para promover a digestão normal, equilibrar o ácido gástrico e reduzir problemas como gases, inchaço e indigestão.
- Gengibre – pode estimular o Complexo Motor Migratório (MMC), ajudando a manter o crescimento bacteriano sob controlo.
- Agentes ligantes – como o carvão ativado, podem aliviar os sintomas, absorvendo o gás do intestino.
- Probióticos – nem todo o inchaço é causado por SIBO. Alguns probióticos podem causar inchaço, mas probióticos à base de esporos são os mais recomendados nestes casos.
Em conclusão, embora a cura do seu intestino possa exigir um pouco de tentativa e erro, os resultados vão mesmo valer a pena! Viver com sintomas digestivos desconfortáveis não é o ideal. Comece pela dieta. Teste a dieta FODMAP durante pelo menos oito semanas consecutivas. Se não melhorar, procure um médico de Medicina Funcional que o acompanhe neste processo e ajude a deixar de se sentir um balão, e a reequilibrar a sua saúde.
Artigo publicado aqui.
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